segunda-feira, 20 de julho de 2015

O simulacro

Debruçada sobre o baú de fotos antigas, a maleta das lembranças mais recentes.
O quase passado de há cinco meses.
Lá dentro, ela sabe, o conjunto das aparências espalhadas aos convivas de Babete permanece protegido. Pistas do contexto. 
Olhos abertos,  a legião de convivas  displicente vagando pelo enredo de dois em pouco menos de uma geração desfilara e permanece ali a debochar dos revezes. Finos e seletos, o gosto oferecido àquelas línguas, os sons e mimos daquela dupla história devoraram o salão e as vidas.  As fotos coloridas, o álbum de óperas e cinemas, as viagens, as declarações de amor em bilhetes e as fitas com certeza dormem confortáveis, acolhidos pelo passado recente, detalhes a comporem o nunca antes e o para sempre na carne de seletas trinta e cinco almas a se fartarem no mais completo êxtase de amor. 
Protegidos pela memória a fazê-los verdade.  A maleta como parte de uma vida.
Olhos abertos e dormência.
Perplexidade.
Espalhada nos pretextos de aventuras e prazeres,  será possível ser apenas o simulacro de aparências de um passado recente? A vida revista. A profunda desesperança. Dor pelos passos a menos e os a mais sinalizados em outras direções. Como mariposas, voam imagens de outra boca dizendo "dearest", dentes exibindo alegria de memórias, passos sincronizados, dedos se esbarrando, almoço e livraria cultura. Caos! Desorientação.
Na tela de 72 polegadas, talvez mais, reportagem mostra Londres e o sub-texto das imagens se desfaz e remonta os passos ao Taste Museun, seguidos ao Shakespeare's Globe, a ponte sobre o Tâmisa, o antes irreal mundo imposto em sentimentos hoje parte inseparável de si mesma. As pistas na maleta, passado presente, vivo, reclamam a vontade louca pelos beijos dedicados, pela mão aquecida na nuca, a fala mansa, o gemido surdo. O amor.
O silêncio fora o exclusivo companheiro em dias, apagado, sofrido e respeitoso. 
Esgotada, sem forças, embalada em margarita, devolve os sentidos abafados ao mundo vilão da realidade. Reclama o espaço, a promessa de amor, a fidelidade. Estranha e se estranha. Sofre em dobro. 
Desmaio da alma.   
Espreita está a vida, espera a calmaria, se esquece, se apaga, espera a maleta de memórias se reabrir e os dois se amarem como loucos
... no palco dos convivas, 
...longe dos desejos de almas intrusas,
...para sempre olhar por dentro de seu doce amado e enxergar a mesma doçura feita em amor para uma vida inteira e para além dela.
Ficar ali, em suspense, aguardar a verdade se deixar passar e se enxergar mentira na ilusão deixada no passado.
Ser presente na maleta de memórias.




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