terça-feira, 21 de julho de 2015

Mon chien

Algum dia me deu preguiça levantar de madrugada, acalmar seu choro.
Deu cansaço fazer a mesma rotina... o limpa, troca, alimenta, cuida de sempre.
Imperfeito amor humano de cansaço e recuo.
Por muitas vezes pensei ser além do que consigo, por esgotar forças em outras atenções que de longe não trocaria. 
Nenhum que tivesse carinho por mim igualável ao seu. 
Nenhum capaz da expressão de lealdade quanto a sua. 
Nenhum que reconhecesse minha presença mesmo sem enxergar, mesmo com sua rabugice e independência usuais, rebeldia de carinho de igual tamanho à reação eufórica em sentir minha presença. 
Sem romantismo algum, vale lembrar, temos uma relação de recompensas feitas por estes dezessete anos entre carinhos e brigas, biscoitos e banhos, recompensas e desavenças. 
Mas são dezessete anos.
Ser altiva mesmo com limites da visão.
Apresentar-se todos os dias mesmo no compasso da artrite.
Dezessete anos..., mais de oitenta dos humanos, quisera chegar a eles com esta calma na vida (mas sem os puns diários! aff !)
De uns tempos para cá, por um pouco de sabedoria tardia talvez, importa mais ter o sobressalto de sonhos me colocando de pé em madrugada fria que ter um grande vazio naquela caminha pequena.
O sacrifício é um pensamento muito rápido levado rápido pela realidade que se sabe lá quanto anos a mais teremos para nos vermos.
Sua rabugice me encanta, mostra charme.
Seus puns são graças revoltantes assumidas por essa família que você atura.
As cacas de Nagasaki são primores de Balzac ou Van Gogh...obras primas!
Veterinários são invejosos de plantão e sabemos deixá-los irritados, vencemos sempre!
Te carrego no coração, com seu jeito e meu jeito imperfeitos.
Me faz maior do que sou, me faz superar egoísmo diário, insistir sempre por você, babá de meu Paulinho, princesa desta casa, anjinho que a vida ainda me mantém e que me faz muito feliz, minha linda petzinha.



segunda-feira, 20 de julho de 2015

O simulacro

Debruçada sobre o baú de fotos antigas, a maleta das lembranças mais recentes.
O quase passado de há cinco meses.
Lá dentro, ela sabe, o conjunto das aparências espalhadas aos convivas de Babete permanece protegido. Pistas do contexto. 
Olhos abertos,  a legião de convivas  displicente vagando pelo enredo de dois em pouco menos de uma geração desfilara e permanece ali a debochar dos revezes. Finos e seletos, o gosto oferecido àquelas línguas, os sons e mimos daquela dupla história devoraram o salão e as vidas.  As fotos coloridas, o álbum de óperas e cinemas, as viagens, as declarações de amor em bilhetes e as fitas com certeza dormem confortáveis, acolhidos pelo passado recente, detalhes a comporem o nunca antes e o para sempre na carne de seletas trinta e cinco almas a se fartarem no mais completo êxtase de amor. 
Protegidos pela memória a fazê-los verdade.  A maleta como parte de uma vida.
Olhos abertos e dormência.
Perplexidade.
Espalhada nos pretextos de aventuras e prazeres,  será possível ser apenas o simulacro de aparências de um passado recente? A vida revista. A profunda desesperança. Dor pelos passos a menos e os a mais sinalizados em outras direções. Como mariposas, voam imagens de outra boca dizendo "dearest", dentes exibindo alegria de memórias, passos sincronizados, dedos se esbarrando, almoço e livraria cultura. Caos! Desorientação.
Na tela de 72 polegadas, talvez mais, reportagem mostra Londres e o sub-texto das imagens se desfaz e remonta os passos ao Taste Museun, seguidos ao Shakespeare's Globe, a ponte sobre o Tâmisa, o antes irreal mundo imposto em sentimentos hoje parte inseparável de si mesma. As pistas na maleta, passado presente, vivo, reclamam a vontade louca pelos beijos dedicados, pela mão aquecida na nuca, a fala mansa, o gemido surdo. O amor.
O silêncio fora o exclusivo companheiro em dias, apagado, sofrido e respeitoso. 
Esgotada, sem forças, embalada em margarita, devolve os sentidos abafados ao mundo vilão da realidade. Reclama o espaço, a promessa de amor, a fidelidade. Estranha e se estranha. Sofre em dobro. 
Desmaio da alma.   
Espreita está a vida, espera a calmaria, se esquece, se apaga, espera a maleta de memórias se reabrir e os dois se amarem como loucos
... no palco dos convivas, 
...longe dos desejos de almas intrusas,
...para sempre olhar por dentro de seu doce amado e enxergar a mesma doçura feita em amor para uma vida inteira e para além dela.
Ficar ali, em suspense, aguardar a verdade se deixar passar e se enxergar mentira na ilusão deixada no passado.
Ser presente na maleta de memórias.




sexta-feira, 17 de julho de 2015

Sempre aqui

Ao pé do cansaço, além dele, o doce esparramar em azul marinha e almofadas xadrezes, estampadas cores fortes de vida escolhida.
Nossa vida.
Aqui, ainda ao pé de cansaço imenso, vejo o dia primeiro da distância anunciada. 
Seus cachos, depois o rosto, o ombro e toda veste negra sempre preferida se escondendo por trás do fechar da porta.
A falta. A saudade. 
Em pé, ao meu lado,  a presença do quente toque na nuca gelada, seguindo e sorvendo o frio. Todo o corpo te sentindo me aquecer no carinho de noites simples.  Assim, distante do desimportante, perto do mais valia, você e apenas nós a nos importarmos com o certo amor. 
A palavra de agora é a verdade de te querer mais que bem, saber no ser a razão de estar contigo.
Saudade.

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