quinta-feira, 14 de maio de 2015

Auto-retrato


Cecília Meirelles

Se me contemplo,
tantas me vejo,
que não entendo
quem sou, no tempo
do pensamento.



Vou desprendendo
elos que tenho,

alças, enredos...

Formas, desenho

que tive, e esqueço!
Falas, desejo
e movimento
— a que tremendo,
vago segredo
ides, sem medo?!

Sombras conheço:

não lhes ordeno.
Como precedo
meu sonho inteiro,
e após me perco,
sem mais governo?!

Nem me lamento

nem esmoreço:
no meu silêncio
há esforço e gênio
e suave exemplo
de mais silêncio.

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