segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Índole de Maria

Sem sentido. Essa é a primeira atitude, a de repulsa por que se sabe que guerras pessoais duram somente estritos cinco a quinze segundos para se deflagrarem a partir de um estopim inusitado. 

Abriu a porta, mãos ocupadas com muitas sacolas de compras do mercado e, ali, mesmo enxergando a impaciência com sinais  iminentes de guerra, a vontade de ignorar na mesma proporção de vezes anteriores não durou dois segundos só porque é assim. Não dá.  O amar em todas circunstâncias natural é recomeço do dia, dormir cansado e acordar disposto como se fosse dia de sol todo dia. Hoje em dia, nos menos ensolarados cumpro a regra de ficar em silencio para a nuvem passar. Aprendi com os dias alemães a acreditar na irreversibilidade do sentimento. Não se discute relação (!!! um absurdo sempre natural??? as coisas são e pronto!) ao menos na regra de um determinado alemão.

Podia desenhar a paz segundos antes. Nada de crítica alguma.

Para listar por curiosidade... os controles remotos fora de ordem e em disposição absolutamente irregular uns dos outros. Canais passeando pela curiosidade sobre desenhos animados, decoração do tipo do it yourself, filmes dublados (um horror possível) muito lixo como se fossem férias para enfim pular para opção Netflix.

A paz de mini bagunça rebelde depois da faxina rebelde em vários cômodos e tarefas ao mesmo tempo. O tempo contado e distribuído para lucrar o dia numa única tacada, e render pernas para o ar nos próximos dias.

O descanso perfeito da deusa contava rendimento de R$ 1.200 na caixinha da casa.  Cinco lavagens de roupa ao invés de lavanderia (300), sai faxineira e entre suor e lágrimas próprias (150),  sai terapia com psiquiatra e entra Netflix (750) Ao final do ano, mantido o ritmo e a necessidade de um dose mínima desta fórmula duas vezes ao mês, a economia poderá atingir R$ 28.800. Abismada com o resultado! Vida de Maria pode ser lucrativa.

E, não! isso não é vida. Preciso de um emprego novo? começar e recomeçar e recomeçar. Confrontar a índole Maria de subsistência com o valor roubado na aposentadoria, o país desigual, sem emprego, sem respeito ao trabalhador e de exploração, com o sonho da casa com jardim, com as sonhadas viagens ao México, Chile, Tailândia, Argentina, Austrália e pela extensão do Brasil sem destino e sem hora.

Fazer diferente e fazer resultados verdadeiros na presença dos sessenta e um anos e três meses na prega da boca, na cirurgia de glaucoma com olho torto, na trava de dor no joelho a cada sentada e levantada. Respeito à vida minha e de todos.

Confrontar Maria com a vida.






sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

A quem interessar possa

Ô dia!


Vou começar com "senta que lá vem história".

Corre para todos os lados com sacolas que sobram para apenas duas mãos de uma lista  grande demais para dar conta.

Estamos num sábado e pulei da cama tonta de sono, mas pontualmente às 6, quando às 7 bastaria
"Gosta de correria, imagina!" "Normal para ela! Picas!" Enquadrando o planeta fica tranquilo de entender, só que não.

Não. Não está.

O sonho é estar estatelada no mesmo sofá fonte de filmes e seriados, e nele estar entretida entre o desenho, um bom livro, memórias para deixar. E o dia segue, pede que se socorra o corpo, pede socorro para as almas... e assim nunca o ócio desprovido de finalidade parecera justo.

Três décadas descansando somente no fôlego do sono.

Receita de viver na década de 80: casar aos 22 anos, romantismo nas alturas e pés plantados na independência feminina. Imagem vendida, imagem comprada. Em instantes se torna a solução financeira se acomoda nesta imagem, perde-se a noção, vira-se a que manda nas tarefas do que precisa a casa, os filhos e a família. Envelhece-se de responsabilidades e o corpo sisudo metendo medo aos outros para afastar e se impor no padrão masculino dos negócios.

Torna-se exemplo de quê? de sacrifício.

Assim a vêm e por dentro morre-se  sem notar.

As tardes poderiam ter sido diferentes sem o clichê da independência.

O corpo poderia ser são, manter-se dócil sem revolta, sem se arriscar, sem exigir, sem escorregar.

Ditadura boa seria a de proibir a falácia da publicidade das necessidades inventadas. Geraria mães sãs, sem carga por suprir o todo, e pais talvez mais conscientes de que o clichê as sufoca.


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Espuma e mar