sábado, 23 de setembro de 2017

Viajante



Cruzara o corredor longo e estreito observando nas paredes nuas apenas as marcas das lembranças. Guardara-as todas.  O endereço do depósito parecia-lhe a decisão correta, medida de proteção. Por vezes questionara cruzar a linha dos solteiros e arriscar as perdas. Estava decidido a seguir em frente pelo corredor, aquelas coleções ficariam para depois. Por hora, um lugar seguro. Por hora viver o sonho, a celebração perfeita nos detalhes do casamento, uma mágica que deixara passar o que seria inevitável. Um ser incorrigível? Ainda não sei.
Olhos parados sobre a sombra desse vulto viajante é o que tenho feito em longas madrugadas, noites e dias inteiros. Preciso saber onde foi que cruzamos a linha em que a mágica cerimônia de casamento começou a se desfazer como areia. Preciso curar a falha. Sangrar esta ferida até que se esgote de qualquer forma, mas da forma melhor possível. Os seus passos que não seguem adiante, suas mãos não tocam mais a minha porta em busca de meu contato.
As pausas sobre as sombras de quadros na parede deste corredor estão matando nossa vida juntos.
Curiosidade. Excitação. Sexo. Vaidade. Encontros. Não sei conviver com isto.
Tenho muito cansaço deste silêncio e dos segredos em seus olhos cruzando outros olhares e desejos.
Um corredor que nunca se acaba para chegar à minha porta e viver a vida de casal comigo apenas.
Preciso do fogo de fantasias, do desejo, do tesão nos detalhes do que fazemos e somos juntos. Tudo o que me levou a me unir a você está sendo desfeito por esta curiosidade mórbita por excitar mulheres, atraí-las, viver momentos de atração.
Esse vulto vagando pelo corredor não é o que desejo. Estou em frangalhos, meu amor. Exausta.
Flores para a casa, jantar de aconchego, vinho à mesa, música, charuto e carinho na varanda, viagem juntos, a mágica. Volta para mim, saia desse corredor.
Estou exausta.





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