segunda-feira, 8 de julho de 2013

Norway toda branca. Brasil todo negro?

Bem cedo no país dos desbravadores do mar. No país onde navegar é parte de um plano sem fim. Escolas formam capitães. Museus falam de expedições ao Polo Sul, de vickings, de viagens experimentais para provar teorias possíveis sobre o homem no mar.

Bem cedo e a laranja tem gosto verdadeiro de fruta sadia, no privilégio do hotel de duzentas mil estrelas em tradição, onde o som, a cada trinta minutos, se desdobra em sinos de três igrejas ao redor, trazendo a tradição aos nossos ouvidos.

Quase um milênio de história no mar distribuída com orgulho pelas ilhas, nas escolas e vilas de descanso nas costas dos fiordes. Flâmulas, medalhas, fotos, réplicas de naus de épocas distantes e mais recentes, memorabílias discorrendo a história em museus incansáveis e orgulhosos.
Ali distante da costa latina, fora dos museus, da janela daquele bar, na fartura do café de uma manhã rompia a cena dois trabalhadores peles muito claras quase vermelhas e olhos muito azuis, um senhor de seus setenta anos e um garoto de poucos dezenove em vestes decentemente limpas, devidamente sinalizados a serviço em Van certamente nova e publicitária e perfeitamente adesivada como se fizesse parte de um evento promocional da fórmula 1.

Organizaram-se como equipe para o conserto de dois semáforos, aparentemente novos mas inoperantes.

A decisão aparente parecia trocá-los por dois outros e levá-los para conserto.

Tudo certo, numa cena de cinema, não na referência de onde vínhamos, lá teriam peles morenas ou negras, trajes rotos e sujos, de viatura imagináramos um caminhão com a pintura fosca e muito suja, com escada pendurada por fora e uma cabina de metal sem pintura com apenas uma pequena janela onde pudessem esconder os muitos cabos, ferramentas e parafernalhas de trabalho.

Ali estava a pintura dos nórdicos. Origem e relação do trabalho e a raça.

Aqui, calando no meu coração a dor de muitos negros que amargam anos de descaso e alijamento encobertos pelo temporário disfarce de cotas, escondendo o que precisa ser feito: com determinação.

Amarga cena descarada de nosso passado e presente.


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