segunda-feira, 16 de julho de 2018

Um estranho

O som nos LPs do passado regando o jantar, as lembranças e as lágrimas permaneceram na solidão de seu silêncio, não as compartilhará comigo, reticências ao meu propósito de conhecê-las.  
Em voz embargada, seu soluço não se convertera nem se entregara livremente em meu colo. Permanecera na distância segura do seu próprio momento como se pouco à vontade estivesse em dividi-las com uma estranha. 
Assim me desfizera. 
Assim me lançara mais uma vez para fora de nós dois. Percorrera por várias vezes e seguirá percorrendo as ruas de outros endereços, na curiosidade incurável da vaidade egoísta por afagos, delícias e prazeres de outras mulheres atraentes, cresce entre nós a mágica solidão a devolver-nos força dos sós. Afrouxa-se a linha, parte-se o cristal. 
Impossível desconhecer que algo vai mal. Somente se a verdade aceita for a das pequenas e grandes mentiras de todo dia.
Mercedes Sosa, Bethânia, Erasmo desfilando e o silêncio de seus pensamentos gritando contra os meus poderiam ser reaproximação e o jantar um grande acontecimento naquela delícia culinária da combinação final. 
Mas o principal tempero faltou: intimidade de outros tempos. 
Músicas ora fartas, ora inocentes ou banhadas em tristeza nostálgica faziam par com o pretexto do preparo da comidinha especial para nos descobrirmos. 
Recatada nas perguntas e nos toques, medi palavras em perguntas curtas sobre o motivo de lágrimas, sem eco firme, nada surgiu e o silêncio permaneceu contido apenas no descanso de um abraço...tremi como criança pequena, desconhecia aquela reação distante, desconhecia o homem que chorava, este homem de lágrimas tristes me soara distante.  
Vira ali apenas a face de quem divide a cobiça e o desejo por outros corpos sem pudor, sem respeito ao sentimento que diz ter por mim. 
Revera a cena do encontro escondido, do olhar de disfarce para mensagem indiscreta e tudo se repete, se repete, se repete, nada muda. 
Tristeza.




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