terça-feira, 5 de abril de 2016

PULSA


Nossa casa tinha um coração que mantinha quente as paredes, dava vida às esquinas e ângulos dos tijolos.

Corriam nela veias, pelo branco das paredes, e se desalinhavam no trajeto linear das lajotas.

Nossa casa estava viva no desarrumar dos anti-derrapantes.

Trocaria, como nunca desejei menos antes, mesmo desconfiando do quão pior seria esta amputação, se amputados de sua presença.

Essa casa tinha um coração. Um coração silencioso e forte, presente em tudo por estar atento, por cuidar sem alarde. Mãos silenciosas de uma proteção tocando nossas almas, acompanhando nossos movimentos. Olhar minucioso sobre os cantos preenchidos, poltronas vazias, luzes acesas, chegadas e saídas. Olfato apurado em anos de lições de amor por nós. "Aonde estão os meus ausentes?"

Pelos passos lentos e certeiros alcançava toda a casa aonde pudesse estender suas veias a proteger-nos no carinho da guardiã.

Restaram as paredes brancas, a luz acesa e sua falta gritando nos meus ouvidos.

O coração parou e pulsa na minha alma como nunca antes tão mais forte porque distante de meus olhos.

Quem te ampara agora? Quem lhe dá o pulso do amor para estender seu zêlo?

Que hajam seres capazes de te alcançar aonde não lhe posso proteger.

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